Adolpho Lutz

Verbetes

Base Arch/COC/Fiocruz
Pseudônimo ou nome de referência
Adolpho Lutz
Formação acadêmica
Medicina
Área de atuação
Bacteriologia
Clínica Médica Veterinária
Dermatologia
Entomologia
Malacologia
Micologia
Protozoologia
Vínculo Institucional na Fiocruz
Pesquisador IOC. 1908-1940
Informações Biográficas

O texto completo elaborado foi retirado na íntegra da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 54, n. 3, p. 447-487, dez. 1956, disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/53355.

Os pais de Adolpho Lutz, Gustav e Mathilde, chegaram ao Rio de Janeiro pouco antes da epidemia de febre amarela, em 1849. Na capital brasileira nasceram Adolfo Lutz e quase todos os nove filhos do casal. Adolfo Lutz vem de uma tradicional família da Suíça, em Berna. Seu avô, Friedrich Bernard Jacob Lutz é um nome importante na história da medicina da Suíça. Ele chefiou o serviço de vacinação antivariólica de 1811 a 1818, foi médico-chefe do Exército, membro do Conselho de Berna, e por fim, foi vereador da capital Suíça. Dando continuidade ao legado da família, Mathilde Oberteuffer Lutz fundou o Colégio Suíço-Brasileiro sediado em Botafogo, Rio de Janeiro.

Adolfo Lutz iniciou os estudos superiores em 1874 e obteve o diploma de médico em 19 de julho de 1879 na Universidade de Berna, Suíça e nesse intervalo, frequentou outras universidades. Em 1877-78, esteve em Leipzig, em busca de ensino biológico mais consistente. Após pedir a revalidação do diploma no Brasil, ele tentou se estabelecer em Petrópolis, como clínico, mas acabou optando por Limeira, no interior do estado de São Paulo. De junho de 1882 a março de 1885, Adolpho Lutz residiu naquele importante centro cafeeiro, canavieiro e cerealífero, então com cerca de quatro mil habitantes e uma expressiva colônia suíço-alemã.

Lutz percorreu diversas regiões do Brasil, Europa, Estados Unidos e Oceania com seus estudos em diversas áreas de pesquisa na área da saúde como: Clínica Médica, Helmintologia, Bacteriologia, Veterinária, Dermatologia, Protozoologia, Malacologia, Micologia, Entomologia, e em todas elas deixou marcas significativas, principalmente nos estudos sobre Parasitoses de animais silvestres e domésticos, Lepra, Ancilostomíase, Febre Amarela, Tuberculose, Doenças de pele e do intestino.

Em 1878, estudou em Estrasburgo e depois fez estágio em Ginecologia e Obstetrícia em Praga. Neste mesmo ano, a Sociedade de Ciências Naturais de Berna premiou sua descrição da Alona Verrucosa, espécie nova do grupo dos Cladóceros, colhida nas vizinhanças daquela cidade. Em julho de 1880, aos 25 anos, Adolpho Lutz doutorou-se com uma tese sobre os Efeitos Terapêuticos do quebracho-colorado (Über die therapeutische Wirkung der Quebrachopräparate), árvore originária da América do Sul, especialmente no tratamento de dispnéias. Escreveu sua tese de doutoramento com as observações que reuniu, estudando precisamente a espécie Quebranchia lorentzii (sinônimo de Loxopterygium lorentzii), segundo a classificação de Grisebach. Publicou num periódico de Berna, seu primeiro artigo de medicina, sobre bronquite fibrinosa.

Em 1885, Lutz publicou estudo decisivo sobre a ancilostomíase Üeber Ankylostoma duodenale und Ankylostomiasis numa série de artigos que saíram na coleção de lições de clínica médica de Volkman, editada em Leipzig. Representavam contribuição tão importante que foram publicados na íntegra, em português no periódico intitulado Brazil-Medico (1888, 1887) e na Gazeta Médica da Bahia.

Em 1893 voltou ao Brasil e foi convidado para ser diretor interino no Instituto Bacteriológico de São Paulo, sendo efetivado em 18 de setembro de 1895. Exerceu o cargo de 1893 a 1908, destacando-se como o quadro mais experiente e bem-preparado de um grupo ainda restrito de médicos que foram, no Rio de Janeiro e em São Paulo, a vanguarda dos processos de instituição das medicinas pasteuriana e tropical e de sua instrumentalização em proveito da saúde pública.

Em 1908 transferiu-se para o Instituto Soroterápico Federal, hoje conhecido como Instituto Oswaldo Cruz (IOC), convidado pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz. Junto com seus auxiliares, realizou investigações de grande relevância sobre as doenças infecciosas que grassavam endêmica ou epidemicamente no estado, e enfrentou duras controvérsias com parcela majoritária do campo médico e outros atores sociais.

Os diagnósticos de Adolpho Lutz e de alguns profissionais mais jovens que começavam a se destacar como bacteriologistas no Rio de Janeiro estavam calçados em provas laboratoriais inacessíveis à maioria dos médicos.

Lutz foi em sua época, o nome do quadro de pesquisadores tecnicamente mais qualificado entre os bacteriologistas brasileiros, com a maior bagagem de experiência, maior quantidade de trabalhos publicados e relações com a comunidade científica internacional. Entre os episódios vivenciados por ele, dois foram particularmente rumorosos: o da cólera e o da febre tifoide.

Em Manguinhos se dedicou à pesquisa até o seu falecimento, no Rio de Janeiro, em 6 de outubro de 1940, poucas semanas antes de completar 85 anos. Lutz via com dificuldades viver no Brasil porque além do clima quente e dos perigos de doenças contagiosas e epidêmicas, como a Febre Amarela, havia uma grande insatisfação com questões relacionadas às desigualdades sociais, ao custo de vida, à falta de pontualidade das pessoas e às dificuldades de investimento público na área científica e principalmente, à estrutura política e social do país, calcada nas relações pessoais em detrimento das leis universais.

A bagagem de conhecimentos zoológicos que Adolpho Lutz trouxe para Manguinhos foi decisiva para a construção de suas coleções biológicas e para estimular os jovens médicos que Oswaldo Cruz recrutara. A contratação de Lutz coincidiu com o auge da influência alemã sobre a vida científica de Manguinhos, que, no intervalo entre Berlim e Dresden, acolheu também Max Hartmann, do Instituto de Moléstias Infecciosas de Berlim, e dois professores da Escola de Medicina Tropical de Hamburgo, Stanislas von Prowazek, autor de importantes trabalhos sobre os clamidozoários, e G. Giemsa, inventor do método de coloração mais utilizado para a observação de hematozoários. O periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, inauguradas em 1909, difundiriam os trabalhos de seus cientistas quase sempre em português e alemão, cabendo a Adolpho Lutz a tarefa de traduzi-los. Seu capital social de relações com universidades, museus e institutos de pesquisa europeus e norte-americanos certamente contribuiu para consolidar o prestígio internacional do IOC.

Embora Adolpho Lutz desfrutasse de grande autoridade e prestígio como cientista e exercesse forte influência sobre aqueles com quem convivia, não tinha pretensões de formar discípulos, pois seu perfil era bem diferente ao de Oswaldo Cruz. Vital Brasil também teve o apoio de Lutz nas pesquisas sobre Ofidismo. A decisão de migrar para o IOC significou a possibilidade de se recolher ao ambiente onde se sentia inteiramente à vontade, e de retomar as pesquisas em Zoologia e Botânica que haviam permanecido em segundo plano durante o tempo em que esteve imerso, na área de Bacteriologia e Saúde Pública.

Durante a sua trajetória em Manguinhos, Adolpho Lutz produziu diversos documentos com temas de interesse médico, como a Esquistossomose, ou de interesse puramente biológico, como os Anfíbios Anuros. No Instituto Oswaldo Cruz, Lutz empreendeu pesquisas sobre Entomologia Médica, Helmintologia e Zoologia aplicadas à Medicina Tropical. Para estudar a Malária, a Hanseníase, Esquistossomose, Febre Tifoide e Leishmaniose, fez expedições pela região do rio São Francisco e ao Nordeste, e pelas florestas serranas do Estado de São Paulo. Os experimentos pioneiros realizados pelo sanitarista Emílio Ribas, junto com Adolfo Lutz, confirmaram a transmissão vetorial da Febre Amarela pelo mosquito “aedes aegypti”. Lutz foi reconhecido como o “Pai da Medicina Tropical” e da Zoologia Médica no Brasil, e foi pioneiro na área de Epidemiologia e na Pesquisa de Doenças Infecciosas.

Notas

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Referências Bibliográficas

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