Verbetes

O texto completo foi elaborado a partir das informações contidas no livro “Gaspar Vianna: gênio paraense da medicina”, de autoria do médico Habib Fraiha Neto. O documento está citado nas referências bibliográficas.
Gaspar de Oliveira Vianna nasceu em Belém (PA) no dia 11 de maio de 1885. Seu interesse pela Medicina iniciou-se ainda quando cursava o ensino secundário no Ginásio Estadual Paes de Carvalho. Aos 18 anos, já era bacharel em Ciências e Letras, com título de agrimensor.
Quando Gaspar Vianna nasceu não existiam ainda cartórios de registro civil no Brasil. Era a Igreja que registrava tudo, por ocasião do batismo da criança. Segundo o Prof. Arthur Napoleão Figueiredo, bom amigo já falecido, autoridade no assunto, somente com a Constituição de 1891 foi criado o Estado Civil e, com ele, o Registro Civil. Isto haveria de gerar muitos equívocos quanto a datas de nascimento, inclusive de personalidades históricas. No caso de Gaspar, a data de 1885 era considerada verdadeira por seus biógrafos, baseados no conhecimento dos dados registrados em sua carteira de identidade.
Órfão de pai em pouca idade, cresceu sob o desvelo de sua mãe e de duas irmãs, e a tutela do irmão mais velho, o ilustre jornalista Arthur Vianna, meticuloso historiador da Santa Casa da Misericórdia Paraense, das epidemias no Pará e de outros temas de não menos interesse regional. Sob a lúcida orientação do irmão, que o criou como a um filho muito amado, Gaspar foi aluno secundarista do tradicional Lyceu Paraense, depois Ginásio Estadual Paes de Carvalho e, aos 18 anos incompletos, já bacharel em Ciências e Letras e com o título de agrimensor, transferiu-se para a capital federal a fim de estudar Medicina, posto não existir ainda uma escola desse gênero no Pará.
Em 1903, Gaspar Vianna muda-se para a capital com a finalidade de iniciar seus estudos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. No segundo ano do curso, suas habilidades em preparações histológicas foram percebidas por seu mestre de Histologia, Eduardo Chapot Prevost, ganhando destaque e notoriedade entre os alunos e os professores da Faculdade. Já na segunda série, porém, despontaria com toda a pujança de seu talento. Aluno do afamado mestre de Histologia, Eduardo Chapot-Prévost, conquistaria do exigente e austero professor a nota máxima, graças à extraordinária aplicação e à rara habilidade nas preparações histológicas, de que resultaria a organização de impecável coleção de algumas centenas de lâminas, que o mestre lhe haveria de pedir deixasse para a cátedra
Ainda estudante, Vianna estruturou um laboratório de Análises Clínicas no Centro do Rio de Janeiro, no Largo da Carioca onde lecionava, em caráter particular, Histologia para alunos da Faculdade de Medicina. Lauro Travassos e Magarinos Tôrres foram alguns de seus alunos, que se tornariam igualmente grandes cientistas do Instituto Oswaldo Cruz. Neste mesmo período, integrou o corpo de profissionais do Hospício Nacional de Alienados como assistente do Laboratório Anátomo-Patológico, e ao lado de Bruno Lôbo, publicou o livro “Estrutura da Célula Nervosa”.
Ao fim do curso de Medicina, Vianna apresentou a tese intitulada "Estrutura da célula de Schwann nos vertebrados", graduando-se em 1908 com nota máxima.
Em 1910, Gaspar Vianna foi convidado por Oswaldo Cruz para assumir a direção da Secção de Anatomia Patológica do Instituto de Manguinhos. Durante seu tempo no Instituto, foi responsável pela caracterização anatomopatológica da Doença de Chagas, descobriu formas de lesihmanióides do esquizotrípano (Trypanosoma cruzi) em tecidos de hospedeiros vertebrados e realizou diversos outros estudos importantes. Dentre eles, destacam-se pesquisas em torno do ciclo evolutivo dos tripanossomas gambiense, equinum, congolense e equiperdum. Além disso, constatou uma nova espécie de leishmania, na qual denominou de braziliensis.
Mas o grande feito de toda a sua vida terá sido mesmo, aos 27 anos, a descoberta da cura da leishmaniose tegumentar. Animado pelo conhecimento da ação do antimônio em certas tripanossomíases do Velho Mundo, tal como nas formas cutâneas da doença do sono, decidiu experimentar o tártaro emético na úlcera de Bauru. A droga estava, há séculos, proscrita das farmacopeias, dados os inúmeros acidentes a ela atribuídos. Resolveu, porém, testá-la com mais prudência, bem diluída (a 1%) em soro fisiológico, administrando-a por via intravenosa. Os resultados foram surpreendentes. Comunicou-os em reunião da Sociedade Brasileira de Dermatologia, por ocasião do VII Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, em Belo Horizonte, abril de 1912, data hoje considerada histórica dessa notável conquista científica. Com a cura da leishmaniose tegumentar, de tão grande repercussão, desbravava ele os caminhos da utilização dos sais de antimônio na terapêutica de graves enfermidades, endêmicas em várias partes do mundo, tais como o calazar e as esquistossomoses.
Na área de Micologia, Vianna constatou uma nova espécie de blastomices em parceria com o Prof. Dr. Miguel Pereira, e ao lado de Dr. Sylvio Moniz descreve um caso de discomicose pulmonar e cutânea. Destaca-se também a descoberta feita por Gaspar Vianna de uma nova micose, causada por um cogumelo ainda não identificado, o Proteomyces infestans.
Em 1913 conquistou, por concurso, a livre-docência da cátedra de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, apresentando um estudo original sobre as lesões apendiculares na blastomicose sul-americana, enfermidade ainda confundida com a coccidioidomicose, ou moléstia de Posadas-Wernicke; o trabalho considerado fundamental, de Gaspar Vianna, no campo da Micologia. Em seguida, foi nomeado para reger, interinamente, a cátedra de Histologia da Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Rio de Janeiro, vinculada ao Ministério da Agricultura.
O médico e cientista Gaspar Vianna foi eleito o Paraense do Século XX na promoção realizada para comemorar os 25 anos da TV Liberal em 2001. Gaspar Vianna foi um dos maiores pesquisadores no campo da medicina. Ele produziu diversos trabalhos em menos de seis anos de profissão, passando dias e noites incansáveis de estudo no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Suas pesquisas se estendiam a vários campos, como a Histologia, Protozoologia, Zoopatologia, Micologia e Anatomopatologia. Nos poucos anos dedicados à pesquisa médica, conseguiu deixar um legado inestimável para a humanidade.
Aos 29 anos, no dia 14 de abril de 1914, durante a autópsia de uma mulher com óbito causado por tuberculose pulmonar, Gaspar Vianna é, acidentalmente, exposto pelo líquido presente na cavidade torácica. Assim, Vianna é contaminado, e em poucos dias, passa a desenvolver sintomas de tuberculose miliar aguda, falecendo 2 meses após o incidente.
Visite o fundo arquivístico no site Base Arch - Gaspar Vianna.
ELOGIO a Gaspar de Oliveira VIANNA, patrono da cadeira número 25 [...]. [Belém, PA: Academia de Medicina do Pará], 1989.
FRAIHA NETO, Habib. Gaspar Vianna: gênio paraense da medicina. Ananindeua, PA: Instituto Evandro Chagas, 2021. 362 p. il. ISBN: 978-85-60420-19-3. Disponível em: https://patua.iec.gov.br/items/12e7f753-db66-4d76-84fc-8731d08a7b1e/full.
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Casa de Oswaldo Cruz. Base Arch: Gaspar Vianna. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: https://basearch.coc.fiocruz.br/index.php/gaspar-vianna.
FUNDAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL HOSPITAL DE CLÍNICAS "GASPAR VIANNA". Gaspar Vianna, o Paraense do Século XX. Blog Biblioteca FHCGV. Belém, 2018. Disponível em: https://bibliotecafhcgv.wordpress.com/gaspar-vianna/.
NECROLÓGIO I: Dr. Gaspar de Oliveira Vianna. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, 1914, p. 68-69. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0074-02761914000200001.
REZENDE, Jofrre Marcondes de. Gaspar Vianna, mártir da ciência e benfeitor da humanidade. In: REZENDE, Jofrre Marcondes de. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina [online]. São Paulo: Editora Unifesp, 2009. p. 359-362. Disponível em: https://doi.org/10.7476/9788561673635.